quinta-feira, 3 de setembro de 2009
Participação Política e Negociação Social
O tempo que vivemos é claramente um tempo de ruptura com uma série de metodologias que num passado mais longo ou mais recente se esgotaram. Se tal se verifica em diferentes planos, seja no tocante às artes, às ciências ou à própria ética, o mesmo se passa no tocante à participação política.
Teremos todos de compreender que a língua política mudou e que o funcionamento do sistema democrático está sujeito a regras e acções nunca antes experimentadas, resultando da rápida transformações das sociedades e das suas intrínsecas dinâmicas.
Impõe-se, por isso, que se olhe para a vida política com um sentido de missão que não seja somente a experimentação de ideias próprias na comunidade que se gere, mas antes que reconheçamos a necessidade de criar um espaço de negociação social que nos permita obter resultados sólidos e baseados nas reais expectativas dos cidadãos.
Quando me refiro a negociação social, não o faço de modo casual ou por força de expressão. Faço-o também por uma questão ideológica. Num momento particularmente assolado pelos fantasmas (ou não) do individualismo, é imperioso que na esquerda democrática se levantem vozes que perfilhem o princípio da gestão negociada. Contudo, e é imperioso referir isto, ela é negociada porque não poderá resultar da arbitrariedade do mercado. O poder regulador das instituições legitimadas pela Democracia deverá manter-se e não demitir-se das orientações que têm no bem comum o seu principal alvo, ainda que muito impopulares o possam ser em determinadas e últimas circunstâncias.
Negociar o desenvolvimento com os cidadãos não significa fazer uma contagem simples de opiniões e escolher a mais votada, significa antes perguntar por um modelo de desenvolvimento, tendo-o explicado a montante, debatê-lo, perceber e enquadrar as respostas dadas e edificá-lo com base naquilo que é o resultado dessa opinião com uma refundada decisão política.
Negociar significará, portanto, explicar, ouvir, debater e consensualizar. O equilíbrio das sociedades de que sou defensor, por oposição a quem radicalmente sustenta o estado de revolução permanente ou de manutenção acrítica do status quo, será uma solução que promoverá com sustentabilidade uma participação cívica e política à medida dos nossos anseios. De outro modo, sem negociação social, teremos sempre a gestão de alguns para a indiferença de muitos.
Negociar não quer dizer que se passem a plebiscitar decisões políticas em plenários de voto nas comunidades, nem tão pouco a criação obsessiva de inquéritos às populações seja em que formato for. Significará, em primeira instância uma mudança de cultura de abordagem política e o envolvimento dos cidadãos na gestão da coisa pública, aproximando-a e demonstrando cada vez mais que a esfera pública é também um factor de realização no âmbito da esfera privada dos cidadãos.