A convergência de gerações em projectos de interesse colectivo mostra-se essencial, tendo em linha de conta a mais-valia que tal pode suscitar nos processos de identidade e apropriação dessas mesmas iniciativas.
Quando se envolvem numa actividade pública interesses que tocam diferentes faixas etárias, está-se, não só, a potenciar a procura, mas sobretudo a tornar mais fundo o seu significado. Se uma determinada acção tiver um leque de participação diversificada, está mais apta a ver o seu tempo de vida aumentado, uma vez que essa mesma actividade dará resposta a um número maior de interessados. Esse interesse, contudo, não é medido apenas por uma soma simples de participantes, mas antes em estratégias de desenho e de construção da actividade e do consequente resultado em termos de projecção futura.
No âmbito político dever-se-á observar algo de idêntico. A arquitectura dos projectos políticos serão tão influentes quanto mais gizados forem colectivamente. As soluções da política devem observar as necessidades dos cidadãos e quase provocarem, de modo espontâneo, a sua militância. A militância, por seu turno, só se consegue quando estão compreendidos e verificados pressupostos que reforcem os processos de credibilidade quanto à justiça e necessidade de determinada medida ou intervenção política.
Quando contrariado o pressuposto de governar em proximidade com os cidadãos, o resultado mais natural é o afastamento gradual destes por falta de reconhecimento pessoal nas medidas, por falta de interesse e por se considerarem inócuos o apoio e a apropriação.
A crise de participação política que vivemos assenta não só, mas também, nesta clara incompetência das classes liderantes em não ter por perto os cidadãos, ou os seus representantes, no momento de definir e traçar estratégias de intervenção. Este problema não é exclusivo do nível nacional, regional ou local ou de algum partido em particular. Este é um problema generalizado de falta de maturação democrática.
As democracias modernas terão de evoluir para uma prática política de empenho de diferentes actores para que esta seja efectivamente sentida como algo que toca ao comum dos cidadãos, seja no seu interesse pessoal, seja no interesse do grupo com o qual mantém relações de pertença e proximidade.
Este aperfeiçoamento do sistema democrático é um desafio que considero civilizacional e que poderá dar resposta a parte da crise de participação que assistimos. Será com certeza um passo de duração mais longa e que refinará os efeitos que todo o gesto que pretende tocar a transformação do mundo aspira.