quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Participação Política - Fiscalização e Ideologias



Espanta-me como tem esmorecido a argumentação que contrarie o preconceito de que sobre os políticos paira um pesada nuvem de corrupção e compadrio e que diferenças não existem entre as forças políticas.
A participação na vida política é tão legítima quanto qualquer outra. Reconhecendo que existem casos de corrupção e de incompetência , não é menos verdade que tem sido levado a cabo um esforço meritório de aperfeiçoamento do nosso sistema democrático, nomeadamente no que toca aos mecanismos de acesso à participação.

Cada vez mais, e muito bem, a actividade política está pormenorizadamente regulamentada, tendo sobre ela uma permanente fiscalização por parte dos órgãos de soberania. A inciativa de limitação dos mandatos políticos trouxe á vida política uma renovação iminente, que em muito contribuiu para o esmorecimento de argumentos que, denegrindo o sistema, apontavam o dedo à repetida participação dos mesmos, nos mesmos lugares. Esta transitoriedade do Homem político é algo a que só agora nos estamos a habituar e que estará, seguramente, na origem de profundas transformações sobre a forma como são encarados os diversos poderes públicos e o uso que deles se faz.

Por outro lado, é sabido que à classe política cabe uma prestação contas acima daquela que é reclamada aos demais cidadãos no âmbito das suas profissões ou participação cívica. As declarações de rendimentos e de património à chegada aos cargos públicos e a necessária declaração de conflitualidade de interesses de quem gere a coisa pública são elementos que contribuem para uma maior transparência da vida política.

Mesmo assim, e por mais preconceituosa que seja a atitude, não deixam de pairar sobre a política essa pesada nuvem que escurece e retira interesse à generalizada participação.

Por outro lado, a aparente desideologização dos partidos políticos tem contribuído para que prolifere uma também aparente semelhança entre as forças. Este argumento do fim das ideologias, por estranho que pareça, serve os interesses daqueles que pretendem ver esmagados os poderes públicos, o isolamento dos cidadãos nas suas relações estritamente económicas, de modo a que sindicatos e demais organizações percam significado e se abandone o Homem a uma relação de forças com os detentores de capital.

O combate pelas ideologias é um caminho de todos. Contudo, a esquerda tem aqui um papel de preponderância, dada a sua histórica vocação para colocar o colectivo e o bem comum no centro da actuação política, de modo a que aos mais desprotegidos se responda com iniciativas social, política e economicamente sustentáveis em nome da paz social e do bem estar das populações.

A desideologização serve sobretudo os poderosos e não a massa dos cidadãos. Face a isso, é no mínimo estranho que sejam os cidadãos em geral a denegrir os políticos e a aceitar o fim da política e das ideologias, entregando-se como cordeiros ao sacrifício dos que «sentados à mesa do rei» «comem tudo e não deixam nada» e de política nem querem ouvir falar.