quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Participação e cidadania - Comunicação



A participação dos cidadãos, ao nível da expressão das suas opiniões e da enumeração das suas expectativas, tem nas novas tecnologias um veículo privilegiado, especialmente no que toca à comunicação via web.As instâncias de poder, desde a sua mais pequena dimensão de governo, que é a Junta de Freguesia, até à Presidência da República, têm vindo a fazer um esforço grande no sentido de facilitar a comunicação entre os cidadãos e quem é responsável pela governação.
No entanto, esta nova era da comunicação não deverá ser encarada exclusivamente com um optimismo acrítico, mas sobretudo com a noção de que algo de muito novo está a ser construído e que, como tal, carece dos cuidados e da atenção que situações desta natureza sempre mereceram ao longo da História.
A preocupação com a evolução destes meios não deverá ocorrer pela tentativa simplista de impedir o seu crescimento, mas antes, pela preparação dos cidadãos para a convivência com este tipo de tecnologia e para a fusão de um modus vivendi, baseado em regras presenciais de contacto, para um outro, onde as duas realidades convivem. O desconhecimento deste tipo de fenómenos é altamente favorável à exclusão social, devendo autoridades, organizações e indivíduos unir-se de forma a usar cada vez mais e cada vez melhor os novos canais de comunicação ao dispor da Humanidade.
No plano político-institucional deverão ser levados a efeito investimentos na modernização da nossa Administração Pública para que seja mais fácil, mais rápido e mais transparente a relação dos cidadãos com as instâncias de poder que o representam. Os últimos anos têm sido de franco progresso a este nível. Contudo, o futuro deve pautar-se, não só pela substituição dos procedimentos, mas antes pelo aumento da qualidade de comunicação associada a estas tecnologias, de modo a aprofundar a discussão das coisas públicas, a denunciar responsavelmente aqueles que são os ataques aos direitos de cidadania e a trazer para o sistema democrático uma pluralidade, nunca antes experimentada, por força da massificação dos meios de comunicação ao dispor dos cidadãos, dada a gratuitidade do acesso a muitas destas ferramentas.
O desafio dos cidadãos não é mais pugnar por um lugar de expressão, mas antes pela qualidade a que todos temos direito num discurso que é público, que nos envolve e nos expõe perante os outros.
A ética na comunicação terá de passar uma prova de fogo como não há memória. Para vencer o desafio que temos pela frente, deveremos, a título individual, ter destas novas formas de comunicação um consumo e um uso responsáveis, de forma a que contribuamos para a promoção do que é sério e que acrescenta, em detrimento do que existe para alimentar a infâmia e o negativismo.
As diferentes formas de governo deverão abraçar esta causa e criar situações de educação para a comunicação, tendo com alvo um aumento da qualidade comunicacional dos cidadãos, sem cair em tentações moralistas ou de regime, que em nada beneficiam a eficiência desta causa.
Preparar os cidadãos para este enormíssimo passo de participação cívica é um dos desafios mais prementes do nosso tempo, estando certo de que através dele se poderão reconquistar aqueles lugares que ajudaram a solidificar a nossa civilização e foram também pilares essenciais da nossa caminhada em direcção à liberdade.